sábado, 11 de julho de 2015


Laura Ferreira e a turba asquerosa


Ana Sá Lopes, Jornal i, 10 de Julho de 2015

A cabeça rapada de Laura Ferreira, sentada ao lado do marido, Pedro Passos Coelho, deu origem a uma miserável onda de asco na blogosfera e nas redes sociais, indigna de pessoas decentes.

Uma mulher absolutamente discreta tem um cancro. Passou, naturalmente, momentos pavorosos enquanto não viu luz ao fundo do túnel. Sobreviveu. Apareceu em público optando por não disfarçar uma sequela da quimioterapia, a queda de cabelo, com perucas ou lenços. A cabeça rapada de Laura Ferreira, sentada ao lado do marido, Pedro Passos Coelho, deu origem a uma miserável onda de asco na blogosfera e nas redes sociais, indigna de pessoas decentes. Toda a gente sabe que as redes sociais estão cheias de hooligans, mas desta vez a iniquidade estendeu-se a grandes especialistas em várias especialidades, a começar por Estrela Serrano, ex-assessora do Presidente da República Mário Soares e professora na Escola Superior de Comunicação Social, um centro de formação das novas gerações de jornalistas.

Tendo por base a fotografia da primeira página do «Correio da Manhã» de quarta-feira – absolutamente normal, um jornalista digno desse nome não deveria esconder a opção radical de Laura em expor a sua cabeça rapada –, a professora doutora que já foi membro da Entidade Reguladora para a Comunicação Social afirma que «a mediatização da doença de Laura Ferreira e o sentimento de compaixão que a sua imagem sem cabelo provoca prestam-se a uma leitura política, sobretudo em época pré-eleitoral, em que os políticos tentam aproximar-se das pessoas através de sinais de proximidade, emoção e humanidade».

Estrela Serrano acusa Passos Coelho de utilizar o cancro da mulher com fins políticos. Não é a primeira figura nacional com ligações ao PS que aparece em público a fazê-lo. Tendo em conta que Passos Coelho viveu o seu drama familiar na maior das discrições (sim, falou nisso na biografia, como é natural numa biografia), estas acusações de aproveitamento político de uma tragédia são de uma sordidez assustadora, reveladora do pior que existe no género humano. Discuta-se Passos no plano político: na minha opinião, é responsável pela degradação do país. Insinuar que utiliza a sua tragédia pessoal é injusto, miserável e revelador de uma falta de inteligência e de compaixão assinaláveis.





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