segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

D. Carlos Azevedo e o salário mínimo de Sócrates


Carlos Santos

D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, no encerramento do Conselho Geral da Caritas, na Igreja da Santíssima Trindade, proferiu uma homilia que deixa estarrecido qualquer católico empresário ou empresário católico.

O tema da homilia era «Caridade crescente abre caminho à salvação», relacionado com economia, nomeadamente com o salário mínimo, como é sabido recentemente utilizado pelo Governo do Partido Socialista como bandeira demagógica. Simples coincidência.

Claro que as subjacentes «teses económicas» do Partido Socialista eram embrulhadas em abundantes recitações bíblicas pescadas em abono da fantasia, como a circunstância impunha. E endossa D. Carlos Azevedo a solução do problema a «alguns»: «O crescimento do ordenado mínimo é um passo essencial. Se cria problemas a alguns, é a sua vez de os resolver (...).» (sic). Assim proclama do alto do púlpito Sua Excelência Reverendíssima.

Já nem discutimos aqui da equidade e função económica do salário mínimo. Aceitemos de bandeja o conceito. Ora, se uma coisa é crescente e não se lhe põe limite, irá matematicamente parar ao infinito. Daí a evidência do sentido sistemático que Sua Excelência Reverendíssima atribui à sua reivindicação. E também a evidência da sua irresponsabilidade na matéria. Efectivamente, Sua Excelência Reverendíssima não coloca limites à reivindicação da «caridade crescente»...

Aqui, e por caridade para com Sua Excelência Reverendíssima, colocamos a hipótese de, ingenuamente como qualquer tecnocrata, acreditar no desenvolvimento ilimitado, que permitiria esse tal salário mínimo (e não mínimo) sempre crescente. Se acredita, então terá de ir estudar um pouquito de economia, nomeadamente recursos naturais. Mas se não acredita é pior porque apenas pretenderá entrar em concorrência com o Carvalho da Silva da CGTP e ficar bem na fotografia social. E aí o Altíssimo é que não deve ficar muito satisfeito com as motivações de Sua Excelência Reverendíssima.


D. Carlos Azevedo, na sua sabedoria temporal, justifica com «ciência económica» a reivindicação afirmando que o aumento do salário mínimo, «Se cria problemas a alguns, é a sua vez de os resolver». E pronto! Por outras palavras, ele diz aos empresários: Desenrasquem-se!

É caso para os empresários irem ter com ele e dizerem-lhe: Faça o milagre económico, já! Se precisar, vá falar com Deus, já que é nosso intermediário! Desenrasque-se!

Os pressupostos económicos de D. Carlos Azevedo não têm, em geral, o mínimo de sustentabilidade. E, no momento actual, de profundo estrangulamento das empresas e de falências em série, apregoar tais teses anti-económicas torna-se ainda mais grave. E em consonância aberta com o Partido Socialista, pior. E apregoá-las do púlpito, ainda pior.


Para terminar, apenas umas sugestões a Sua Excelência Reverendíssima. Porque não aproveita o púlpito para denunciar sistematicamente a acção do Governo do Partido Socialista contra os valores cristãos do casamento, da família e da moral? Porque não apela aos crentes para se mobilizarem pelo referendo que derrotaria o chamado «casamento» entre pessoas do mesmo sexo?

1 comentário:

Melio disse...

Concordo que em termos economicos tenha de existir um limite para o aumento do ordenado minimo, tal como acredito que não podemos continuar (cada vez mais) a viver com uma ilimitada estagnação de ordenado minimo nacional,aumentos salariais e ascendencia de categorias profissionais tudo em prol dos lucros milionarios cada vez menos satisfatorios para as carteiras das entidades e empresas em Portugal. Nisto tudo,dignidade como ser humano?? Isso não interessa, venham é os Milhões!! Em parte não posso deixar de concordar D. Carlos Azevedo, em casos extremos tomam-se medidas extremas! Claro que isto é algo que não agrada aos chulos do Zé Povinho, quem tem Milhões custa sempre entregar tostões. Espero não ferir os sentimentos de ninguem ao usar a palavra "chulos" , mas tal como diz o proverbio antigo: Só se pica quem tem agulhas!