domingo, 31 de janeiro de 2010

A imprensa e os Estados Unidos no Haiti

Cláudio Mafra

Não adianta. A lavagem cerebral anti-americana é a força mais actuante, mais influente dos nossos tempos, a mais importante de todas. Não adianta os Estados Unidos enviarem ajuda para o Haiti numa escala excepcional, nunca vista. Os jornais preferem criticá-la e insinuam de uma forma ridícula o perigo de uma ocupação permanente. Seria um insulto à inteligência crítica se essa inteligência não estivesse adormecida, ao que parece em carater perpétuo. E a desonestidade é flagrante. As manchetes não correspondem ao que está na matéria. Na quarta-feira, dia 20, o Estadão publicou em letras garrafais um primor de má fé: «FORÇAS AMERICANAS AMPLIAM ACÇÕES E OCUPAM SEDE DO GOVERNO». Não é óptimo? Parece uma guerra, a descrição de um ataque americano. Mas, que governo é esse a que se referem? Ainda não perceberam que não existe um Estado no Haiti? Não perceberam que o último governo para valer foi o da ditadura de Baby Doc, o ladrão que fugiu para a França em 1986.

O especialista em armamentos do Estadão começa assim: «Os Estados Unidos estão a fazer no Haiti o que sabem fazer de melhor: ocupar, assumir, controlar». Que coisa, hein? Conquistaram outro país. E o mais esquisito vem depois, quando ele cita a Doutrina Powell «aplicada em tempo de paz». Mas, o que é isso? Por conta própria resolveu adaptar o inadaptável, apenas para os leitores ficarem impressionados com sua cultura ao citar o general*. Diz o especialista: «Ela prevê que os EUA não devem entrar em acção a não ser com superioridade arrasadora». Mas como, diabos, é que esse vocabulário guerreiro se aplica à situação no Haiti? A gente pensa que ele vai descrever uma competição entre os Estados Unidos e outros países para ver quem ajuda mais -- um approach idiota -- mas dessa nós escapamos. Aliás, o Brasil ressentiu-se com a presença formidável dos americanos e andou trilhando o seu caminho preferido: o da falta de compostura nas relações internacionais. Achou que estava perdendo prestígio (e estava mesmo, como é possivel igualar-se à primeira potência mundial?) e passou logo para a difamação. Êta Amorim!

Virando a página temos outra manchete: «Acção agressiva dos EUA causa atrito com a ONU». Quer dizer, os EUA estão metendo os pés pelas mãos. E na reportagem: «A operação americana no Haiti causa mal-estar na ONU e a entidade é obrigada a declarar que o país ainda é ‘um Estado soberano’». «Obrigada a declarar »… Mas que advertência mais absurda! Parece que os Estados Unidos estão truculentamente investindo contra os poderes constituídos. E por falar nisso, o Presidente da República, René Préval, já saiu de debaixo da ponte? Bem, sabemos que a ONU é mais do que esquerdista, mais do que anti-americana, embora um terço do salário dos seus funcionários-marajás venha dos Estados Unidos.

Voltando à reportagem, vemos que depois do estrago feito, o repórter filo-comuna resolve fingir isenção: «Quase 70%do orçamento da ONU para o Haiti vêm de Washington». Mas ele não resiste a esse ataque de quase honestidade e ataca outra vez: «É a bandeira americana que está hasteada no aeroporto de Porto Príncipe». Malditos americanos! Já tomaram o aeroporto! E o restante da matéria é uma barbaridade. Critica o que seria uma ocupação: «A ONU está irritada, já que os americanos estão actuando como se estivessem num local de guerra» e «a ONU protestou porque os alimentos estão sendo distribuidos usando paraquedas». Dá para acreditar? Implicam até com os paraquedas. O completo nonsense. E o cabide de empregos usa tudo para criticar os Estados Unidos, ainda que seja sustentado por eles. O repórter segue com suas bobagens monumentais, mas sempre procurando disfarçar o seu sentimento de ódio. Para isso usa o mecanismo de alguém afirmando alguma coisa agradável sobre a ajuda extraordinária dos Estados Unidos. Dessa maneira finge que está sendo neutro, mas o peso da matéria, o seu direccionamento geral, o que se instala na cabeça do leitor, é a repulsa aos famosos imperialistas que são a desgraça do mundo, mesmo quando os factos mostram uma clareza imbatível, com os americanos trazendo alimentos, remédios, soldados e organização numa quantidade que só mesmo eles, com seu imenso poder, podem fazer. E por falar nisso, onde é que está a China? Comportando-se de maneira a justificar o sonho da esquerda de que amanhã será o maior país do mundo, tomando o lugar dos Estados Unidos? Impressionando pela quantidade de ajuda ou enviando suas quinquilharias falsificadas?

Um correspondente fala na «mania dos generais americanos de colocar os generais europeus na sua insignificância». Nossa Senhora, mas é exatamente o contrário! Desde a 2.ª Guerra Mundial, e na Guerra Fria, os militares americanos aprenderam a tomar o maior cuidado para não humilhar os seus aliados. Em determinados momentos chegaram a ser patéticos. O exemplo histórico foi deixarem De Gaulle entrar à frente em Paris com a sua tropinha francesa, negando aos soldados que realmente libertaram a cidade o orgulho, o direito, de fazê-lo. (De Gaulle deu logo um pontapé na História e começou o seu discurso dizendo: «A França! A França que se libertou com suas próprias forças!»). E, além do mais, todos sabemos que os generais europeus são mesmo insignificantes. Não conseguiram colocar ordem na própria cozinha, nos episódios da Bósnia e no Kosovo. Morreram de medo dos sérvios. Dependem dos americanos para tudo.

O porta-voz da diplomacia de Washington enviado ao Haiti deu uma entrevista e vocês viram a manchete que o Estadão colocou? Foi assim: «Americanos não vão se retirar tão cedo». Não é demais?

O Globo também segue na mesma linha e nem vale a pena citá-lo. Agora me lembrei do Dave Letterman fazendo uma piada: «Amanhã estaremos transmitindo a entrega do Oscar para 137 países que nos odeiam».

Tudo que coloquei no artigo é apenas do dia 20 de Janeiro de 2010, quarta-feira. Se eu pegasse toda a semana seria material para uma tese.

Nós precisamos educar os nossos filhos EM CASA, já que do lado de fora tudo é esquerdismo, tudo é anti-americanismo. É falta de amor, respeito, é indignidade permitir que eles façam parte da boiada.

* Essa doutrina atribuida a Powell de fato não é dele. Já havia sido formulada por MacArthur em declarações sobre a guerra da Coreia, e por outros generais com referência à guerra do Vietnam. Kissinger também escreveu a mesma coisa. A grande característica de Collin Powell é a falta de caráter.

Publicado em Reflexões Radicais

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