Balanço breve dos factos recentes
Heduíno Gomes, militante n.º 7210 do PPD-PSD
«Não nos devemos deixar intimidar pelas opiniões dominantes.»
Bento XVI
O processo do Congresso do PPD-PSD e a subsequente eleição do Presidente da Comissão Política Nacional, assim como o Congresso que a seguir virá, não ultrapassam em conteúdo o habitual ritual num partido que, em rigor, nunca funcionou em moldes internos transparentes. Consequentemente, os resultados deste processo eleitoral só por acaso poderiam ser bons: havendo uma grande conjugação astral, como diria o astrólogo Santana Lopes, que lê nas estrelas. Para que este processo eleitoral tivesse alguma utilidade seria preciso cair do céu um chefe providencial, esclarecido, com autoridade, que naturalmente se impusesse contra os interesses instalados e que chegasse à presidência e pusesse ordem no burgo.
Vejamos muito sinteticamente os factos.
I – UM TRISTE PANO DE FUNDO
1 – O PPD-PSD, de forma sistematizada, nunca proporcionou formação política aos seus militantes. Ora, a formação política não cai do céu... É que convém aos barões lidar com uma massa de «inscritos» tão ignorantes quanto possível, para que a tarefa de manipulação seja mais fácil. Quantos mais cegos houver no Partido, mais facilmente reinam os barões.
O plano de Mota Pinto para o PPD-PSD (1984) previa precisamente instituir a formação política no Partido mas quis o destino que ele desaparecesse prematuramente e lhe sucedesse o obscurantista Cavaco, que tornou ainda mais obscuro o tradicional obscurantismo. A formação política do plano de Mota Pinto permitiria à maioria dos militantes escolher em consciência e não apenas por «intuição», diminuindo assim o peso do factor de manipulação dos barões, aliás risco sempre presente mesmo com a formação política.
2 – A «preparação» de um congresso, segundo o modelo corrente, consiste em:
a) eleição de delegados sem qualquer discussão sobre qualquer assunto;
b) elaboração, individual ou por algum órgão, de uns textos de princípios vagos, imediatistas, tacticistas, e normalmente revelando enorme ingenuidade política, não para colocar à discussão dos membros do PPD-PSD antes da eleição dos delegados – e depois também não...;
c) tal facto consumado, distribuição apressada desses textos aos congressistas, pomposamente chamados de «moções de estratégia».
E ponto final. Está preparado. É só pôr ao lume.
3 – Os congressos do PPD-PSD nunca foram, portanto, preparados como deveriam, a saber:
a) apresentação de documentos-base a todos os membros;
b) discussão ampla e atempada dos documentos pelas secções;
c) eleição de delegados baseada nas conclusões individuais da discussão prévia desses documentos, sendo os eleitos mandatários das vontades expressas pelo voto (e não por caciquismo).
4 – Os próprios congressos do PPD-PSD nunca funcionaram como deveriam, a saber:
a) acesso exclusivo a membros do Partido e impedimento da presença de jornalistas, de modo a que cada delegado possa falar abertamente, o que não fará perante terceiros; ora, sabemos que a sala está pejada de pessoas estranhas, algumas mesmo inimigas do Partido, nomeadamente de jornalistas que influenciam ou tentam influenciar o curso dos acontecimentos;
b) respeito pela ordem de inscrições para o uso da palavra; ora, sabemos que a Mesa manipula a ordem das inscrições, favorecendo os barões e desfavorecendo os delegados comuns, onde 99% dos delegados é colocado a intervir em horas mortas, com sala vazia ou ruído de fundo, em total desrespeito, permitido pela Mesa do Congresso, enquanto os barões se exibem nas horas nobres, com transmissão directa pelos telejornais;
c) possibilidade efectiva de livre confrontação de opiniões; ora, sabemos que 99% dos delegados dispõe de um tempo ridículo para intervir enquanto os barões dispõem de todo o tempo.
5 – O Congresso é ainda desvirtuado na sua representatividade pelo sistema de inerências: membros dos TSD e JSD (dois escadotes dentro do PPD-PSD) fazem-se representar duas vezes, uma por inerência e outra participando nas votações como membros ordinários do PPD-PSD.
A representatividade do Congresso é ainda mais desvirtuada na eleição dos delegados pela votação dos falsos membros do PPD-PSD, nuns casos tratando-se de indivíduos não participativos ou totalmente apolíticos e noutros até mesmo de votantes no PCP ou noutros partidos, arregimentados por caciques que lhes pagam as quotas e os mandam votar internamente no seu grupo de interesses.
Esta situação não é corrigida pelos órgãos disciplinares ou de direcção porque faz parte do seu próprio jogo eleitoral interno.
6 – Os congressos assim promovidos não são de modo nenhum reuniões magnas de trabalho do PPD-PSD, necessariamente internas, mas sim oportunidades para os barões se exibirem pelas televisões perante o País.
Chamam ao espectáculo televisivo «abrir o PPD-PSD ao País» mas, na realidade, estão a esburacar o PPD-PSD, a manipulá-lo e a manipular o País pelas televisões.
Pura propaganda pessoal.
7 – Com toda esta confusão, o PPD-PSD, proporciona um palco de vaidades e um escadote aos carreiristas, sendo os membros preocupados com o bem comum, o Partido e Portugal completamente cilindrados. Por esta razão, o PPD-PSD não tem conseguido estabelecer um programa claro para Portugal, com valores definidos e objectivos concretos. Como convém aos barões, para manobrarem livremente.
8 – A coroar a confusão, o PPD-PSD dispõe de uns Estatutos atabalhoados, mal paridos, confusos, talhados para a confusão, revistos pontualmente à vontade do freguês-barão – tal como o Código Penal foi revisto por Sócrates conforme as conveniências dos delinquentes do PS.
Os Estatutos não são encarados como instrumento regulador do trabalho interno de um partido nacional e operante, visando definir um ideal e uma acção para servir Portugal.
9 – A ajudar à confusão, uns «iluminados» em sistemas de organização (Pacheco Pereira e Marques Mendes) surgiram com a brilhante ideia da eleição directa de órgãos, quando pensavam que lhes convinha. Assim favoreceram o populismo, o qual, nas circunstâncias de falta de preparação política interna, constitui mais uma forma de manipulação.
Ao caciquismo vem juntar-se o populismo.
10 – O Congresso que em breve terá lugar, apenas para consagrar o Presidente eleito directamente, não vai trazer nada de novo a não ser uns faits divers e a satisfação de umas vaidades através das televisões.
11 – Neste pano de fundo, onde se descortina o debate interno?
Onde está o confronto aberto de ideias, necessariamente reservado e apenas entre membros do Partido?
Como pode o membro conhecedor das matérias fazê-las chegar ao conhecimento do conjunto dos membros do Partido e contrapô-las aos barões?
Quando e onde poderá o membro do PPD-PSD efectivamente exprimir-se, e exprimir-se sem estar a ser ouvido (supostamente, se lhe dessem a palavra...) pelo inimigo através da televisão?
12 – Como poderá assim, sem discussão interna, construir-se uma unidade interna para agir numa única frente no exterior?
Dando ordens? Mandando expulsar (como Cavaco, sem dar a cara, fez a Carlos Macedo e por menos do que ele próprio fez a Balsemão)?
Incluindo nos Estatutos normas disciplinares (como Santana Lopes, o rei do jet set e da «dissidência» laranjas, para os sessenta dias anteriores ao Congresso mas que expiram no início do Congresso perante as câmaras de televisão)?
Pretendemos tratar com seriedade o assunto ou construir uma nova farsa disciplinar?
13 – A lei da rolha é, na realidade, a tradicional falta de debate interno no interior do PPD-PSD. Verdadeiro debate interno, instituído e respeitado, e disciplina são condições necessárias à vida do PPD-PSD. Mas um não pode existir sem o outro.
Os modos de debate e disciplina do PPD-PSD deverão seguir os critérios próprios para consolidar o Partido e não os critérios liberais dos jornalistas, sempre interessados no negócio da fofoca política, que lhes alimenta os ordenados. Ao chamarem «lei da rolha» à não discussão pública de assuntos internos e à unidade de acção – apenas possível reunindo as condições já descritas –, políticos populistas e jornalistas interesseiros apenas exploram os sentimentos de liberdade das pessoas. A solução do problema da disciplina só pode ser correctamente resolvido em simultâneo com o problema do debate interno e da unidade assim forjada. E nisso não estão interessados os barões nem jornalistas fofoqueiros.
Nós queremos liberdade interna, decisões colegiais e unidade de acção de modo a termos um partido forte e coeso para construir um Portugal melhor.
II – ALGUNS EPISÓDIOS
14 – O medíocre Pedro Passos Coelho insistiu em concorrer e, por falta de comparência de um adversário à altura (quer verdadeiramente à altura, quer à altura na escala do medíocre sistema instituído), lá conseguiu ser eleito. Tal como Durão.
Era o pior e mais perigoso deles todos. Mas a democracia é isto mesmo, é o triunfo dos números, mesmo manipulados, dos papagaios que prometem a lua, dos medíocres que escrevem livros que envergonham qualquer verdadeiro estadista – como se prefira.
O PPD-PSD tem de estar contente e orgulhoso de si próprio. Tem um presidente que é a favor do chamado «casamento» dos invertidos e das fressureiras apostados na destruição da família e da Civilização, um presidente que tem dúvidas se essa gentalha deve ter direito a adoptar crianças, um presidente que é a favor da cultura da morte, da legalização das drogas, da pornografia nas televisões, do ainda maior abandalhamento da língua portuguesa com o famigerado acordo ortográfico, do esfrangalhamento da unidade nacional com a regionalização, etc., etc.
Que maravilha! Um meio-Louçã e meio-Sócrates laranja, apenas ligado a grupos económicos diferentes.
Gente com tais critérios morais não presta moralmente. Quem votou nele sem o saber – a grande maioria dos membros do Partido –, mais tarde ou mais cedo há-de arrepender-se. Quem votou sabendo, também não presta.
15 – Rangel era o menos mau. Não descendo ao nível do ganhador, contudo comunga de alguns princípios pretensamente progressistas que desembocam na destruição dos valores naturais e das instituições da Civilização. É novo e talvez um dia perceba esses erros e possa vir a ser um quadro decente de um PPD-PSD a sério. Talvez.
A campanha eleitoral interna do PPD-PSD foi conduzida por regras erradas: devendo ser interna, foi pública. Mas, já que, participando nela, se tornava obrigatório debater publicamente, então ninguém se deveria inibir de denunciar a miséria moral e antinacional de qualquer candidato.
Ora Rangel fez uma campanha cinzenta na questão dos valores morais e nacionais e não denunciou as misérias do adversário principal, que a esmagadora maioria dos membros do PPD-PSD repudia. Não soube ou não quis explorar esse trunfo.
Pagou estupidamente os seus punhos de renda com a derrota. É o que merecem os cinzentos e politicamente correctos, os hesitantes e cobardes, e os complacentes com o mal. Mais vale morrer de pé, a consciencializar a massa, do que calado, a deixar avançar quem não deve. Aprenda.
Definindo como seu único, pessoal e doentio objectivo boicotar a candidatura de Rangel, assim favorecendo a calamidade Coelho e prejudicando conscientemente o PPD-PSD e Portugal, comportou-se como uma peixeira do Bolhõ. As suas intervenções na televisão, demagógicas, patéticas e ridículas, revelaram uma pequena alma inscrita no seu limitado quadrado.
III – PERSPECTIVAS
17 – É triste mas é verdade: a nova direcção do PPD-PSD nada vai resolver de bom para o PPD-PSD nem para Portugal.
O PPD-PSD continuará a ser a mesma confusão e as ideias que oficialmente apresentará para Portugal serão aquelas conhecidas do Mudar e as saídas das cabecinhas pensadoras da equipa ora triunfante. Com a agravante de, à sua frente, estar um tipo perigoso dos chamados «casamentos» entre invertidos e etc.
A política de Civilização será igual à de Sócrates. A política de identidade nacional será igual à de Sócrates. A política educativa irá ser a mesma de Veiga Simão e do 25 de Abril. Idem para as outras políticas, com as particularidades próprias de cada cabecinha pensadora da equipa ora triunfante. Apenas, se tiver tempo para conquistar o poder, o grupo irá fazer uns negócios e substituir uns gestores públicos xuxas ou dos rivais internos pelos seus.
Do ponto de vista do PPD-PSD real e de Portugal, é mais um compasso de espera. Mais do mesmo. Os esperançosos membros do Partido e os Portugueses, mais uma vez, podem esperar sentados por melhores dias.
18 – As contradições e insuficiências desta direcção do PPD-PSD virão rapidamente à tona. Os grupos rivais de barões já estão certamente a afiar as espadas. A maioria actual não resistirá ao desgaste em preparação. É tudo uma questão de tempo.
19 – Abrem-se neste momento três cenários possíveis.
O primeiro: precipitam-se as eleições parlamentares e o Coelho ganha, ascendendo a Primeiro-Ministro. Vai obviamente aumentar o caos em Portugal.
O segundo: o Coelho não ganha as eleições parlamentares. Ele não resiste ao desgaste interno, caindo de imediato no PPD-PSD.
O terceiro: não se precipitam eleições parlamentares. Entretanto o Coelho vai-se desgastando, quer pela manifesta incompetência do seu grupo, quer por acção dos grupos de barões rivais, e cai, sendo substituído no próximo Congresso.
Eis, mais uma vez, a cassete com a receita (que os chicos espertos não conseguem ou não querem entender):
a) elaborar um programa sério de trabalho para o Partido, sem as habituais ambiguidades ideológicas e políticas de que os Portugueses estão fartos e uma estrutura orgânica adequada;
b) elaborar um programa sério para Portugal, decorrente do programa do Partido;
c) organizar, na base desse programa, de Norte a Sul, os membros do PPD-PSD, velhos e novos, ansiosos por uma luz ao fundo do túnel;
d) colocar, pouco a pouco, nos postos de comando do PPD-PSD aqueles que demonstrarem maior fidelidade ao programa de trabalho, que é de todos e nacional;
e) apresentar aos portugueses o programa para Portugal e os militantes que revelem capacidade individual quer para defender esse programa quer para executá-lo.
Esta é a única alternativa segura para resolver de uma vez por todas a crise do PPD-PSD e, portanto, a crise de Portugal. Tudo depende da vontade de um núcleo sólido, determinado e patriótico.
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