Luís Lemos
No 10 de Junho, nas comemorações junto ao monumento aos
combatentes do Ultramar, contrastando com o excelente discurso do
tenente-general Sousa Rodrigues (texto já reproduzido em http://responderachamada. blogspot.pt/2014/06/palavras- do-tenente-general-sousa.html ), foi a intervenção de Henrique Leitão,
professor universitário da Faculdade de Ciências de Lisboa. Assistimos ao pior discurso que já alguma
vez se ouviu nesta circunstância. Para termos
uma ideia, transcrevemos algumas partes com as nossas anotações.
...
Henrique Leitão num oceano de sabedoria. |
«Ao
começar estas breves palavras vale sempre a pena relembrar algo que é para
todos nós uma evidência: não viemos aqui para celebrar nem uma
ideologia nem uma política».
(Que quererá Henrique Leitão dizer? Que a defesa do
Ocidente e dos seus valores, que Portugal protagonizou no Ultramar, não assenta
em nenhuma ideologia nem era política (e, nesta hipótese, tratar-se-á de
ignorância filosófica e geo-estratégica de Henrique Leitão)? Ou, pior ainda,
que Henrique Leitão se quer demarcar da ideologia e da defesa militar dos
valores do Ocidente (e tratar-se-á de «progressismo» politicamente correcto)?
Então, se não se trata de ideologia nem de política, será que os traidores abrilistas que entregaram de bandeja o Ultramar à influência soviética também poderiam aqui estar a comemorar o 10 de Junho?)
Então, se não se trata de ideologia nem de política, será que os traidores abrilistas que entregaram de bandeja o Ultramar à influência soviética também poderiam aqui estar a comemorar o 10 de Junho?)
«Não viemos nem para comemorar vitórias nem para lamentar derrotas».
(Viemos aqui para comer umas febras e beber uns copos?)
«Não viemos para julgar.»
(Afinal, para que servirão a história e as comemorações
senão para lembrar e valorizar as políticas correctas, os valores
correctos e os actos de patriotismo e condenar os erros e as traições,
proporcionando assim ensinamentos e bons exemplos para o futuro? Parece estar
na moda «não julgar»... Mas, como se verá , afinal ele, como todos, já vai
julgar... mal!)
«Também não viemos apenas para relembrar o passado, como algo frio e
distante que se examina com interesse vago ou apenas com saudade.»
(Passado frio e distante? Interesse vago? Apenas com
saudade? Sem ser fonte de lições? Pois, já tínhamos percebido para que serve a
reflexão histórica!)
«Aprendi convosco que os verdadeiros soldados lutam não porque odeiam o que têm diante»
(...)
(Para o cientista politicamente
correcto da Faculdade de Ciências de Lisboa, o que os
soldados portugueses teriam diante de si – o inimigo soviético na forma de guerrilha – não
deveria ser odiado. Deveria ser quê? Tolerado? Amado? Observado com frieza?
Deveria o soldado português puxar o gatilho, matar? Talvez, mas com amor... A
guerra que Portugal travou em África por si próprio, pelo Ocidente e pela
Civilização deveria ser uma espécie de guerra do Solnado?... Olhe, da parte do
inimigo não era assim! Claro que para todas estas interrogações há uma resposta
moralmente certa. Mas não é a resposta implícita na consideração beata de
Henrique Leitão.)
...
Coisas simples que Henrique Leitão devia estudar. |
«A
história do nosso país enche de surpresa e admiração a quem a estuda: Uma nação
pequena, de escassa população e recursos limitados, veio a desempenhar um papel
singular na história da Europa e do Mundo. Não foi uma história perfeita de gente irrepreensível» (...)
(Que quer o cientista dizer com isto? Que os
Portugueses se comportaram mal com o inimigo? Que trataram mal o inimigo em
armas? Que Portugal cometeu erros de política ultramarina?... Conhecemos bem,
da parte dos opinadores bem comportadinhos, politicamente
correctos, as alternativas de capitulação perante o inimigo soviético.
E afinal, pasme-se, quem disse «Não viemos para julgar» já está a julgar o comportamento dos
Portugueses... à maneira dele...)
...
«Os historiadores discutem há décadas como explicar estes
factos surpreendentes [os Descobrimentos]. Razões
económicas, políticas, sociais, religiosas têm sido avançadas como explicação,
e todas elas são certamente necessárias.»
(E eis que ele vai descobrir-nos as verdadeiras razões!)
«Mas talvez a resposta esteja em olharmos para nós próprios: Arrojados,
às vezes imprudentes, sempre prontos para partir, voluntariosos e um pouco
desorganizados, fascinados com o novo, com o diferente, sonhadores, assim foram
portugueses de todos os tempos.»
(Isto é, Henrique Leitão, no seu discurso, cita o
cientista dos Descobrimentos Pedro Nunes – poderia até citar outros cientistas
anteriores, como, por exemplo, os da Escola de Sagres e Abraão Zacuto. Mas
depois vem explicar o êxito dos Descobrimentos pelo «voluntarismo», pela «imprudência»,
pela «desorganização» dos Portugueses... Os Portugueses, uma
espécie de povo fandango, de marinheiros fandangos – gente não irrepreensível, como
disse.
Então o cientista ignora que por detrás da grande empresa dos Descobrimentos estava uma verdadeira elite, a Ordem de Cristo, exemplo de valores, de organização, de planificação, de visão estratégica? Mas que grande lição de história e de história da ciência!).
Em resumo, Henrique Leitão ofereceu-nos um discurso pretensamente cheio de originalidades poéticas mas caindo na ideologia primária da não-ideologia, na política primária da não-política, no relativismo moral ou amoralismo do não julgar e na desconstrução da grandiosa epopeia dos Descobrimentos. Não, obrigado.
Então o cientista ignora que por detrás da grande empresa dos Descobrimentos estava uma verdadeira elite, a Ordem de Cristo, exemplo de valores, de organização, de planificação, de visão estratégica? Mas que grande lição de história e de história da ciência!).
Em resumo, Henrique Leitão ofereceu-nos um discurso pretensamente cheio de originalidades poéticas mas caindo na ideologia primária da não-ideologia, na política primária da não-política, no relativismo moral ou amoralismo do não julgar e na desconstrução da grandiosa epopeia dos Descobrimentos. Não, obrigado.
Curiosamente, Henrique Leitão é co-autor de um artigo,
com o professor americano Walter Alvarez, defendendo precisamente o contrário
sobre o papel da ciência nos descobrimentos. Nesse artigo, os autores avançam
mesmo a hipótese de a ciência moderna ter nascido em Portugal, com os
Descobrimentos, «e não com
Copérnico ou Galileu, como geralmente se aceita» (Segundo Alvarez em entrevista ao Público, em 22.5.2014).
Não possuindo elementos para irmos tão longe, é-nos no
entanto legítimo perguntar: – Então, em que ficamos? Os Descobrimentos foram
obra de organização e ciência ou de voluntarismo, desorganização e imprudência?
Ou seja, nos fóruns académicos, a propósito dos
Descobrimentos, Henrique Leitão fala de ciência. Como grande especialista, que
sabe da poda, o que lhe proporciona cachet. E depois, neste acto
solene, prefere destacar a vulgaridade dos Portugueses.
Com toda esta narrativa terá pretendido demarcar-se da reaccionarada?
Erro de casting da Comissão Executiva do evento. As aparências iludem e errar é humano. Para o próximo ano será certamente melhor.
Erro de casting da Comissão Executiva do evento. As aparências iludem e errar é humano. Para o próximo ano será certamente melhor.
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