sexta-feira, 4 de julho de 2014

Rei por alma de quem?


Reproduzimos um interessante comentário de um monárquico  – Filipe d’Avillez – sobre a coroação do último dos Filipes, que espero ser realmente o último da série de má memória (como todos os não Filipes daquelas bandas).

Entre as observações pertinentes que Filipe d’Avillez tece, destaco o facto de, na sua «tomada de posse», o último dos Filipes ter rejeitado referências religiosas, isto é, os símbolos da invocação de Deus para ser rei. Então aqui coloca-se a questão da legitimidade do soberano.

A questão é bem simples. Se não é rei eleito nem invoca a vontade de Deus para sê-lo, onde terá ido buscar a sua legitimidade? Será rei por alma de quem?

De destacar igualmente o facto de Filipe d’Avillez, no seu artigo, não ter esquecido a ocupação de território português pelo Estado espanhol. Houve para aí um entrevistado na televisão, monárquico, a quem foi perguntado se o Filipe seria «amigo de Portugal». E o entrevistado respondeu que sim. Pois agora é que vamos ver se nos devolve o que é nosso! O papá também era «amigo». Da onça.

                                                                        Heduíno Gomes


Para mais considerações, ver também:
http://maislusitania.blogspot.pt/2014/06/espanha-viva-la-tricolor.html



Uma conversa entre Filipes

Filipe d’Avillez

Tu és Rei, ou estás prestes a sê-lo, e eu não sou. Logo aí há uma grande diferença entre nós… mas une-nos o nome próprio, pelo que me permitirás falar-te sem cerimónias.

Desde que tenho consciência política que sou monárquico, mais ou menos activo, nunca o escondi. Defendo a monarquia espanhola, gosto dela até… do lado de lá da fronteira, entenda-se, e arrisco dizer que se vivesse nos anos 30 teria contemplado seriamente combater por ela, talvez juntamente com os carlistas, mas isso é outra história.

Amanhã vais ser proclamado Rei de Espanha. Filipe VI. Mas vejo que tomaste a decisão de recusar a celebração de uma missa no contexto dos festejos e que decidiste, também, que o ceptro e a coroa que te serão entregues não se farão acompanhar de um crucifixo durante a proclamação.

Meu caro, como eu ficaria mais descansado se compreendesses as 1001 razões pelas quais isto é um erro tão grande! Começo por recordar-te um episódio histórico. Jesus Cristo, lembras-te dele? Tenho para mim que Ele devia ser o modelo para qualquer pessoa e sobretudo para qualquer rei. Também o quiseram coroar, lembras-te? Queriam fazê-lo rei de um povo, como fazem agora contigo. Mas Ele preferiu a cruz. Lembras-te? Não te incomoda nada que estejas prestes a fazer precisamente o contrário de Cristo nosso salvador?

Apetecia-me perguntar se vais mandar retirar a cruz do cimo da coroa, mas em vez disso vou partilhar contigo aquilo que me explicaram sobre o significado dessa cruz. Não é só uma referência cristã, é a lembrança de que qualquer rei deve estar disposto a ser crucificado pelo seu povo, como Cristo. Se rejeitas esta cruz, que custa tão pouco, aceitarás a outra se te for imposta? Podes responder que não e ser um bom rei? Não me parece.

Até de um ponto de vista pragmático o que fazes é uma parvoíce. Estás a tentar agradar a quem? Os republicanos e a esquerda já te odeiam. Não é por isso que vão passar a gostar de ti… apenas estás a facilitar-lhes o trabalho… Mas arriscas hostilizar os católicos, isso sim. Para quê o tiro no pé?

Terá a ver com outras religiões? Pois digo-te que se eu vivesse na Tailândia ou na Arábia Saudita preferia saber que o Rei se identifica com a religião maioritária do país e se sente responsabilizado por essa crença do que pensar que ele a descartava por razões políticas e sociais.

A monarquia é sempre melhor que a república, sobre isso não tenho dúvidas. Uma das razões, ao contrário do que dizem os críticos, é precisamente o facto de o Rei não ser eleito. Na prática, isso significa que ele não deve o seu posto a nenhuma clique política nem a nenhuma loja maçónica. Mas tem de sentir que a deve a alguém, tem de sentir que tem alguém acima dele.

A cruz que acabas de rejeitar é precisamente essa recordação. É algo que te obriga a ter noção que foste colocado acima do povo para servir o povo mas que terás de responder perante Deus pela forma como te comportas nessa posição. A missa que acabas de rejeitar é precisamente essa recordação, seria o único momento do dia em que mostravas claramente que não te consideras acima de qualquer um dos teus súbditos. Hoje, como há 2000 anos, Cristo é o grande nivelador social da humanidade. Morreu por todos, ama todos e julgará todos. Sentes-te acima desse julgamento? É essa a mensagem que transmites.

Filipe, meu caro homónimo, cometeste um erro grave. Fizeste sem que ninguém te pedisse aquilo que incontáveis mártires, incluindo tantos no teu próprio país, no século passado, foram intimados a fazer mas recusaram, ao custo da própria vida.

Acorda Filipe. Andas a dormir? É que por cá temos um ditado: «Rei que adormece no trono, acorda no exílio».

Com votos de que possa estar redondamente enganado a respeito de ti, despeço-me com amizade!

Filipe


P.S. A minha irmã ainda está um bocado chateada por não te teres casado com ela… Ou pelo menos estava, já que o meu cunhado nunca renunciou um crucifixo…

P.P.S. Quando quiseres devolver Olivença…





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