sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A traição avança a Alta Velocidade



O tal comboio que nos vai ligar à Alta Velocidade Europeia, mas que não tem qualquer plano para ir a lado nenhum que não Madrid, já está a começar a drenar o pouco financiamento que Portugal ainda possa captar no estrangeiro. Para além do desastre do projecto em si, seja em termos geopolíticos, seja em termos económicos, seja em termos de finanças públicas, temos que somar o factor "eucalipto": Esse projecto vai encarecer todos os restantes financiamentos para outros projectos, públicos ou privados em Portugal. Castela sorri...

Que dizer da "capacidade" das empresas portuguesas que um administrador da RAVE[1] refere na defesa de mais um "investimento" público, que vai de uma vez por todas "modernizar" o país? Entre os participantes deste consórcio vencedor[2] está a Iridium Concesiones de Infraestructuras S.A. e a Dragados S.A., empresas genuinamente lusas e cuja participação nos lucros é desconhecida.

Mas o verdadeiramente curioso na notícia é a redução de custos. Menos 900 M€ em relação ao projecto inicial... deve ser esta a forma de vender esse desastre: É um mau negócio, não é barato, mas é mais barato do que anunciado previamente. E mesmo esta "prenda" é virtual: logo começarão as derrapagens do costume. A questão torna-se ainda mais premente quanto se constata que numa primeira fase o actual vencedor tinha a proposta mais cara[3].

Será que vale a pena falar dos milhares e milhares de postos de trabalho que supostamente serão criados por este "investimento"?
Certamente juntar-se-ão aos outros milhares criados com todas as autoestradas e outras obras públicas que têm sido feitas e que resultaram na taxa de desemprego superior a 10% que temos actualmente...

João Louro


[1] - http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=400349
«(...)Durante a cerimónia, Carlos Fernandes, administrador da Rede Ferroviária de Alta Velocidade (RAVE), já tinha sublinhado que tanto a proposta da ELOS, que ganhou a concessão, como a outra finalista, do consórcio Altavia Alentejo, liderado pela Mota-Engil, eram "excelentes", dos pontos de vista "técnico e financeiro".

O mesmo administrador da RAVE elogiou ainda a "capacidade" demonstrada pelas empresas portuguesas no âmbito deste concurso do TGV.(...)

De acordo com os dados da RAVE, desde Dezembro de 2005 até Junho deste ano, foi possível reduzir em "cerca de 40 por cento" os custos estimados para a concessão do troço de AV Poceirão-Caia, numa extensão de 165 quilómetros.

Em 2005, o troço estava orçado em 2.260 milhões de euros, acabando por ser a sua concessão adjudicada por 1.359 milhões de euros, o que significa "menos 900 milhões de euros", disse o administrador Carlos Fernandes. (...)»

[2] - http://www.rave.pt/tabid/232/ItemID/271/View/Details/Default.aspx

«(...)Concorrente n.º 1 - Agrupamento "ELOS - Ligações de Alta Velocidade", constituído por: Brisa Auto-Estradas de Portugal S.A.; Soares da Costa Concessões SGPS, S.A.; Soares da Costa S.A.; Iridium Concesiones de Infraestructuras S.A.; Dragados S.A.; Lena Concessões e Serviços, SGPS, S.A.; Lena Engenharia e Construções, S.A.; Bento Pedroso Construções S.A.; Odebrecht, Investimentos em Concessões Ferroviárias, SGPS, S.A.; Edifer - Construções Pires Coelho & Fernandes, S.A.; Edifer - Desenvolvimento de Negócios, S.A.; Zagope - Construções e Engenharia, S.A.; Zagope SGPS, Lda.; Banco Millenium BCP Investimento, S.A.; Caixa Geral de Depósitos, S.A.(...)»

[3] - http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1398628

«(...)Os três consórcios com propostas para construção do troço Lisboa/Poceirão da rede de Alta Velocidade apresentaram projectos com custos de construção entre 1870 milhões de euros, do consórcio liderado pela FCC, e os 2310 milhões de euros, do consórcio co-liderado pela Brisa e pela Soares da Costa.(...)»

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