José António Cerejo, Público, 10 de Julho de 2014
O ex-presidente da Junta de São Domingos de
Benfica, até agora adjunto do secretário de Estado do Emprego, e o seu pai,
presidente da Junta das Avenidas Novas, foram acusados pelo Ministério Público
por corrupção passiva.
Parte da acusação refere-se a obras feitas no
Jardim de Infância no Bairro Grandella
Rodrigo Gonçalves, vice-presidente da concelhia do
PSD de Lisboa e até agora adjunto do secretário de Estado do Emprego, e o seu
pai, Daniel Gonçalves, presidente da Junta de Freguesia das Avenidas Novas, em
Lisboa, foram acusados no passado dia um por corrupção passiva para acto
ilícito, em dois casos relacionados com a Junta de Freguesia de São Domingos de
Benfica de que o primeiro foi presidente até ao Verão passado.
O despacho da 9.ª Secção do Departamento de
Investigação e Acção Penal de Lisboa acusa também um antigo fiscal da Junta de
São Domingos de Benfica, um empresário de construção civil e um dirigente de
uma associação de moradores de crimes de corrupção e peculato.
Uma parte dos factos que sustentam a acusação,
revelada pelo PÚBLICO em 2008, prende-se com a adjudicação à firma Better
Building de um conjunto de obras efectuadas em 2006 na sede da Junta de
Freguesia de São Domingos de Benfica e com o destino dado a dois
subsídios, no valor de 75.000 euros, atribuídos pela Câmara de Lisboa e pela
junta à Associação de Moradores de São Domingos de Benfica, em 2005 e
2006.
Uma outra parte da acusação tem a ver com uma
alegada exigência de dinheiro feita por Rodrigo Gonçalves na mesma época,
através do fiscal Carlos Vicente (militante da secção do PSD então dirigida
pelo ex-autarca), à empresa de manutenção de espaços verdes Cupressus que tinha
um contrato com a junta. Essa exigência, que consistia no pagamento de 2 000 euros
mensais, não terá sido aceite pelo sócio-gerente da empresa.
Já no caso das obras na sede da autarquia, o Ministério Público diz que Rodrigo Gonçalves combinou com o dono da Better Building, Armando Pinto de Abreu, que aquele lhe pagaria, por intermédio de Carlos Vicente e do seu pai, Daniel Gonçalves, uma determinada quantia em troca da adjudicação da empreitada. Esse pagamento, no valor de cerca de 6 000 euros, veio a ser feito em numerário e entregue num envelope a Carlos Vicente que, segundo a acusação, o entregou a Daniel Gonçalves, conforme combinado, para que este o entregasse ao filho.
Quanto aos subsídios atribuídos à associação
de moradores para a reabilitação de um jardim de infância que aquela associação
possuía no Bairro Grandella, na Estrada de Benfica, a procuradora-adjunta
Andrea Marques concluiu que só uma parte deles acabou por servir para pagar as
obras, igualmente executadas pela Better Building sem qualquer contrato. O
remanescente, no montante de cerca de 27 000 euros, terá sido desviado para
proveito próprio por Carlos Valente (actualmente residente na Suiça), que terá
ficado com 21 500 euros, e por Albino da Silva, o presidente da associação de
moradores que se terá aproveitado de perto de 5 500 euros.
O pai. Daniel
Gonçalves.
Actualmente Pres. da JF das
Avenidas Novas. |
No caso de Rodrigo Gonçalves, o Ministério Público
requereu ao tribunal que lhe fosse aplicada a pena acessória de proibição do
exercício de funções públicas que envolvam a competência para autorizar a
realização de despesa com a aquisição de bens e serviços.
O PÚBLICO tentou ouvir Rodrigo Gonçalves, deixando
recados no gabinete do secretário de Estado do Emprego, mas não obteve resposta
até agora. O gabinete do ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social,
por seu lado, respondeu apenas que Rodrigo Gonçalves «não integra o
Gabinete do Secretário de Estado do Emprego desde o dia 8 de Julho.»
A acusação, recorde-se, é do dia 1 deste mês.
O presidente da concelhia de Lisboa do PSD, Mauro
Xavier, escusou-se a pronunciar-se sobre a manutenção ou não de Rodrigo
Gonçalves no lugar de vice-presidente uma vez que ainda não conhece a acusação
do Ministério Público.
Já Daniel Gonçalves respondeu, por email, o
seguinte: «Relativamente a qualquer acusação que me envolva, considero que a
mesma só pode ser um erro grosseiro do Ministério Público.»
Rodrigo Gonçalves, que é também membro da Assembleia Municipal de Lisboa, está a ser julgado desde há alguns meses pelo crime de «ofensa à integridade física» do seu colega de partido e ex-presidente da Junta de Freguesia de Benfica, Domingos Pires. A agressão pela qual está a ser julgado ocorreu, segundo o despacho de pronúncia, em 2009, altura em que Domingos Pires tinha 71 anos e o arguido 35.
Domingos Pires, ex-Presidente da JF de Benfica, com as marcas da agressão. Julgamento a decorrer. |
As alegações finais deste
julgamento, que terá ainda uma audiência na próxima terça-feira e outra no dia
12 de Agosto, estão marcadas para 5 de Setembro.
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