Gonçalo Portocarrero de Almada
Anda por aí uma flamante moda de chamar
«presidentas» às senhoras que chefiam alguma instituição, seja ela um Estado,
como a auto-denominada «presidenta» do Brasil; um parlamento, como a Assembleia
da República; ou uma fundação, como a que administra o legado do Nobel
português José Saramago.
Não decorrendo esta extravagância do nefasto
desacordo ortográfico, talvez proceda da ideologia do género, que muito gosta
de baralhar, na vida e na linguagem, o masculino e o feminino.
Como é sabido, mas não de todos, quando se denomina
um sujeito que exerce a acção expressada por um verbo, adiciona-se à raiz
verbal os sufixos «ente», como em docente; «ante», como em navegante; ou
«inte», como em contribuinte. É esta a forma correcta, qualquer que seja o sexo
ou género do indivíduo de quem se predica. Uma mulher polícia é uma agente da
autoridade e não uma «agenta»; quem fabrica é uma fabricante e não uma
«fabricanta»; uma mendiga é uma pedinte e não «pedinta». Portanto, pela mesma
razão, quem ocupa a presidência, seja mulher ou homem, é presidente e não
«presidenta». Outro tanto se diga dos substantivos invariáveis quanto ao género
como, por exemplo, atleta, autista, doente, belga, motorista, etc.
É curioso que as promotoras destes femininos não
defendam, que se saiba, uma forma masculina para os mesmos étimos. Se a forma
«presidente» não é, a bem dizer, feminina nem masculina e se se pode dizer
«presidenta», porque não também «presidento»?! Portanto, quem diz «presidenta»
também deveria referir-se ao «presidento» da República, aos ex-«presidentos» do
parlamento e ao «presidento» da Fundação Gulbenkian ...
Desculpem o atrevimento de quem não é
«especialisto» na matéria, nem «jornalisto», mas um mero «cronisto», que espera
chegar, um dia, a «pensionisto» … E valha-nos a Sophia, que não era
«pedanta»!
Nota da redacção
O artigo é óptimo. Só peca ao pretender absolver
destes disparates a Sofia (com pH ácido), que era uma feminista igual às
outras, tão tola como todas as feministas. E substancialmente mais pedante que
as demais. Esta não era presidenta mas dizia-se poeta em
vez de poetiza... O poema é o mesmo. As moscas é que variam.
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