Pe. C. John McCloskey
«Estamos agora diante da maior confrontação
histórica que a humanidade alguma vez enfrentou. Penso que grande parte da
sociedade americana e da comunidade cristã ainda não compreenderam bem isto.
Estamos diante da confrontação final entre a Igreja e a anti-Igreja, entre o
Evangelho e o anti-Evangelho.»
«Temos de estar preparados para nos submetermos a
grandes provas no futuro próximo; provas que nos obrigarão a estarmos dispostos
a dar até as nossas vidas e uma dádiva total de nós mesmos a Cristo e por
Cristo. Pelas vossas orações, e pelas minhas, será possível aliviar estas
tribulações, mas já não será possível evitá-las... Quantas vezes a renovação da
Igreja não foi alcançada através do sangue! Desta vez não será diferente.»
– Conferência proferida nos EUA, pelo futuro São
João Paulo II, então Cardeal Karol Wojtyla de Cracóvia, Polónia, a propósito
dos 200 anos da independência dos Estados Unidos.
Da primeira vez que li isto os meus olhos quase que
saíram das órbitas. Não queria acreditar que fosse autêntico, mas já confirmei
várias vezes e é. E disse-o a nós, americanos, quando estávamos no apogeu da
nossa grandeza, pouco antes da queda do «Império do Mal».
É para levar a sério? Sim, muito a sério. Afinal de
contas, o orador estava prestes a tornar-se um dos maiores papas da história da
Igreja. Mais, era um místico e, sim, um profeta e proclamador da verdade, que
sofreu debaixo dos nazis e do comunismo, e de certa forma do Islão. (Recordemos
que quase foi morto por um assassino muçulmano, sendo salvo apenas pela
intercessão de Nossa Senhora de Fátima, como o próprio admitiu).
Deixem-me ser claro: A minha meditação sobre as
palavras de João Paulo II não pretende levar-vos a vender tudo o que têm,
fechar as contas no banco, construir um abrigo nuclear e esperar pelo Juízo
Final. Essa não é a atitude católica. Mas é difícil não «meditar estas coisas
no nosso coração». O que é que o Papa viu? Ou o que é que lhe foi revelado?
Talvez o melhor seja procurar respostas nos seus escritos, embora não haja aqui
espaço para os analisarmos exaustivamente.
Também podemos olhar à nossa volta, para o que
resta daquilo que em tempos se chamava o Ocidente cristão e notarmos uma
quantidade de comportamentos e crenças que parecem feitos à medida para
acelerar o declínio. Por exemplo, no Ocidente damos conta da crise demográfica,
aborto legal, homossexualidade aberta e «casamento» homossexual, níveis
epidémicos de pornografia, queda nos índices de casamento e aumento dos níveis
de coabitação.
Politicamente, até os Estados democráticos e
tolerantes como o nosso estão a começar a negar os direitos de liberdade
religiosa a famílias, empresas e igrejas. Mais, notamos uma crescente
centralização do poder nas mãos daqueles que se opõem a qualquer crença
religiosa excepto a idolatria da saúde, riqueza e tecnologia. Colocam a sua
esperança de longo prazo na possibilidade de a ciência encontrar formas de
impedir a morte. Viram demasiados filmes do Star Trek e da Guerra das Estrelas
quando eram crianças. Infelizmente, acabarão por ir para onde muitos homens já
foram – e não para o espaço.
Esta é, certamente, a anti-Igreja que São João
Paulo previa – seja como for está aqui, está a crescer e, até certo ponto, já
destruiu a Europa.
O que podemos fazer? Em primeiro lugar, claro, não
desesperar. Enquanto católicos, vivemos esta vida com os olhos postos na
próxima. Não podemos perder pois, como disse São Paulo, para nós a morte é
lucro e não temos que temer.
Então como devemos enfrentar a anti-Igreja? Imitando
as vidas dos primeiros cristãos! Considerem esta famosa descrição dos cristãos
na «Carta a Diogneto», escrita por um autor desconhecido, no ano 79 depois de
Cristo.:
Os cristãos não se distinguem dos demais homens,
nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem, em parte alguma,
habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida
de natureza singular. (...) Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos:
participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a
terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira.
Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os neonatos.
Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não
vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis
estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos
são perseguidos. São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas
em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados,
são também justificados. Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas
honras. Fazendo o bem, são punidos como maus.
Se vivermos como viveram os primeiros cristãos,
também nós podemos confrontar e triunfar sobre a Igreja dos Impérios Globais do
Mal.
(Publicado pela primeira vez a 1 de Junho de 2014
em The Catholic Thing. Tradução de Filipe
d’Avillez)
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